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Cidadania desde cedo

Autonomia e participação dos alunos são as metas de escola paulista

POR:
Beatriz Vichessi, Karina Padial, Gustavo Heidrich
RODA DE CONVERSA Alunos de 4 e 5 anos se reúnem para decidir quais atividades querem fazer nas aulas
Crédito: Mariana Pekin

EPG MANUEL BANDEIRA Guarulhos (SP)
Matrícula: 681 alunos da creche ao Fundamental
Ideb: Anos iniciais: 5,5 / Meta: 6,0
Fonte: QEDU

“Aqui na escola você pode dar a sua opinião, escolher o que quer estudar e até como melhorar seu desenvolvimento.” A frase, que resume o trabalho da EPG Manuel Bandeira, localizada em um bairro pobre de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, poderia muito bem ter sido dita pela diretora Solange Turgante, pela vice, Ana Paula Souto, ou pela coordenadora pedagógica Camila Tesche. Mas não. O autor dela é Vinicius Barbosa, 10 anos, que cursa o 5º ano.

O garoto integra a equipe de ajuda da classe, o que significa que quando acaba uma tarefa está pronto para auxiliar os colegas que precisam. Esse é só um dos grupos de apoio que as turmas contam: tem o da organização da sala, o de sugestões para o recreio e o de mediação de conflitos.

Vinicius estuda com Mariana Cardeal, também de 10 anos, representante de classe. Cabe a ela registrar as informações das assembleias de turma semanais, levá-las aos encontros que mantêm regularmente com as gestoras e apresentar aos colegas as discussões propostas pela direção.

Em outubro do ano passado, eles precisavam debater a programação da Semana das Crianças. As turmas do 4º e 5º anos sugeriram fechar a rua em frente à escola para brincar – de queimada, vôlei, mãe da rua. A vice-diretora levou o pedido à secretaria de Trânsito, que autorizou o bloqueio. “Veio pai, mãe, pessoas da própria rua brincar com a gente”, conta Mariana.

Os pequenos de 4 e 5 anos também deram suas sugestões. Em uma roda de conversa – estratégia que substitui as assembleias de classe dos maiores –, eles fizeram o desenho do que queriam: piscina de bolinhas, tobogã e jardim florido. E apresentaram os mais votados para a equipe gestora.

As discussões não se restringem a temas dessa natureza. O uso de celular na escola, por exemplo, é assunto recorrente. Na assembleia do 5º B é José Igor dos Santos, 10 anos, que puxa o assunto. “Eu que escrevi isso. Vi que algumas pessoas não estão cumprindo com os combinados da assembleia geral (da qual participam alunos, professores e gestores) e tem mexido no celular dentro da classe”, falou sem citar nomes, regra número 1 que a escola inteira estabeleceu para que ninguém seja exposto. A número 2 é que todos têm que levantar a mão e esperar a vez, inclusive a diretora.

Em busca de sentido

A consolidação de tantos espaços de decisão é resultado de uma mudança que começou em 2013, quando Solange e Ana Paula assumiram a gestão. “Minhas experiências de professora e coordenadora me revelaram que algo no sistema educacional precisava mudar”, conta Solange. Ela queria construir um projeto que considerasse os desejos dos alunos e transformasse a relação deles, das famílias e da comunidade com a escola. “É claro que competências matemáticas, de leitura e escrita são essenciais, mas não se forma ensinando só Português e Matemática.”

O primeiro passo foi propor o trabalho por projetos – e já nesse momento com temas escolhidos pelos alunos. Realidade que ganhou consistência nos encontros de formação com os docentes e com a consulta a pesquisadores.

No ano passado, uma mudança de rota, no entanto, foi necessária. E quem apontou isso foi justamente o Ideb, com a ajuda das avaliações feitas pelos professores e das autoavaliações dos estudantes. “Identificamos a necessidade de ter eixos para os projetos. Definimos três: literatura, cultura popular e ciências e tecnologia”, afirma Ana Paula. A grade horária também passou a contar com tempos específicos para conteúdos que os projetos não conseguiam abordar.

Para Camila, o Ideb não pode ser o indicador mais importante de uma escola. “Além de ele não conseguir medir a formação cidadã, não mapeia o contexto.” Isso significa dizer, no caso da Manuel Bandeira, que o índice ignora, por exemplo, o alto número de alunos novos que entram todo o ano e o esforço de inovar em metodologias de ensino e organização construídas coletivamente com os alunos e a comunidade.